quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Com Levy, Fazenda terá 'workaholic' de ideias firmes e tão turrão quanto Dilma

  
 
O engenheiro naval Joaquim Levy é obsessivo por trabalho, franco no limite da rudeza e pouco disposto a concessões. Ao contrário do que muita gente esperava, a presidente Dilma Rousseff arrumou um ministro da Fazenda tão turrão quanto ela para dar um jeito na economia.
Quando Dilma anunciou a saída de Guido Mantega, ainda durante a campanha presidencial, esperava-se que chamasse um substituto que pensasse como ela ou que, ao menos, se subordinasse às suas vontades.
Levy não é nada disso.
Diferentemente da presidente, Levy, 53, é liberal, doutor pela ultraortodoxa Universidade de Chicago, com anos de serviços prestados ao FMI e amigo de Armínio Fraga, conselheiro do rival Aécio Neves (PSDB) na eleição.
Até esta semana era diretor do Bradesco. Vai trocar um salário anual de cerca de R$ 1 milhão, podendo chegar a R$ 3 milhões, dependendo do cumprimento de metas, pelos R$ 26.723,13 mensais de ministro de Estado.
Antes mesmo de ser confirmado, o que é previsto para esta quinta (27), ele vem sendo bombardeado pelo "fogo-amigo" de parte do PT.
Fora da ala mais resistente do partido, porém, sua presença na equipe econômica foi interpretada como um sinal de que Dilma reconhece a fragilidade da economia e estaria disposta a uma reviravolta na área -que inclui cortar gastos e elevar impostos, algo muito impopular.
Dentro do Palácio do Planalto, Levy já é chamado de "Joaquim mãos de tesoura".
De trato gentil e bem-humorado, um de seus hobbies é passear no aterro do Flamengo, no Rio. Interessado pela vegetação do local, elabora com a paisagista Denise Monteiro um guia das árvores do parque. "Ele é autodidata, se interessa tanto que conhece algumas espécies pelo nome científico."
Quem conviveu com Levy, no entanto, afirma que esse personagem aparentemente pacato desaparece quando começa a trabalhar.
De sua passagem pela Secretaria do Tesouro no governo Lula, entre 2003 e 2006, ficou lembrança de jornadas que iam até as 3h da madrugada. Com a mulher e as duas filhas morando em Washington (EUA), ele entupia a caixa de e-mails de colegas antes mesmo que acordassem.
Nas reuniões de trabalho, defendia suas opiniões com insistência. Quando não conseguia convencer, voltava ao tema em reuniões seguintes com argumentos renovados. Ia ao limite, mas acatava as determinações de Antonio Palocci, quando o então ministro da Fazenda, seu chefe, precisava arbitrar divergências.
"Ele é muito determinado, gosta de desafios profissionais e trabalha muito, muito duro para atingi-los", diz a ex-diretora do FMI Teresa Ter-Minassian, que conviveu com Levy quando ela chefiava missões do Fundo no Brasil e ele estava no governo.
Com longa experiência no setor público, o novo ministro integrou a equipe econômica das gestões FHC e Lula.
Seu último cargo público fora como secretário de Fazenda do Estado do Rio (2007-2010). Assumiu as contas públicas estaduais em frangalhos. Conseguiu reequilibrar as finanças e abrir espaço para a obtenção de empréstimos. Cortou gastos e chegou a usar artimanhas, como congestionar o sistema de contas do Estado nos últimos dias do ano para adiar despesas e segurar dinheiro em caixa.
Quando esteve no comando do Tesouro Nacional de Lula, Levy conduziu um ajuste fiscal à brasileira -mais baseado em aumento de impostos, corte de investimentos e contenção do salário mínimo do que na redução das despesas do governo.
De início, operou com penúria de receitas -o que se repetirá agora. A economia encolheu nos dois primeiros trimestres de 2003, primeiro ano de Lula, o que comprometeu a arrecadação.
Uma elevação de alíquotas e bases de cálculo das contribuições sociais começou naquele ano, mas a ampliação da poupança pública dependeu do bloqueio de obras públicas e de reajustes salariais.
Restabelecida a confiança do mercado, a recuperação da economia potencializou a alta da carga tributária e permitiu um saldo recorde, até hoje não ultrapassado, das contas federais em 2004.

Fabio Braga/Folhapress
Joaquim Levy, convidado para o Ministério da Fazenda
Joaquim Levy, convidado para o Ministério da Fazenda
CONFLITOS
Durante os pouco mais de três anos com a chave do cofre, ele teve alguns conflitos com colegas de governo.
Criticou diretores do BC, que queriam elevar juros contra a inflação -isso iria aumentar as despesas do governo com o pagamento da dívida, que estava sob sua responsabilidade.
A divergência mais aberta se deu com a própria Dilma, então na Casa Civil. A equipe liderada por Palocci propôs um programa de controle de gastos no longo prazo, com limites para a expansão das despesas permanentes com pessoal, custeio e (suprema heresia) programas sociais.
Dilma foi a público contra a ideia, classificando o ajuste de "rudimentar". "Despesa corrente é vida", disse ela.
Levy contra-atacou, também pela imprensa: "Quero crescer como a Índia, como a China, como a Coreia, ou quero continuar dando aumentos, aposentadorias; vamos inventar novas vinculações, vamos proteger a universidade, o fulano, o beltrano?".
Ele deixou o governo logo depois de Palocci, que saiu em meio a suspeitas de que, ainda como ministro, se reunia com lobistas de Ribeirão Preto, sua cidade.
Levy foi então indicado por Lula ao recém-eleito governador Sérgio Cabral (PMDB), que, mais tarde, começou a perder popularidade ao aparecer em fotos com o empresário Fernando Cavendish, dono da construtora Delta, investigado por corrupção.
As imagens foram tiradas em 2009 em uma festa em Paris, em que Cabral, Cavendish e outros membros do governo do Rio posavam com guardanapos na cabeça.
Levy estava na comitiva que foi a Paris para receber um prêmio do governo francês, mas não aparece nas fotos da festa do guardanapo.
Em 2010, deixou o governo Cabral, após divergências com boa parte do secretariado. Os colegas queriam aumentar os gastos, mas encontraram "Joaquim mãos de tesoura" pela frente. Conforme as pressões políticas aumentaram, Levy preferiu sair.
Quem conviveu com ele afirma que é difícil dobrar Levy. Antes de ir para o governo do Rio, passou pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Washington. Com o objetivo de modernizar a administração da instituição, teria ficado incomodado com a morosidade que encontrou e foi embora, em menos de um ano.
Sua trajetória no setor público pode justificar seu interesse no cargo apesar das dificuldades. "Joaquim na essência é um gestor de política econômica. Quem tem esse perfil almeja um dia ser ministro da Fazenda", diz a economista Mônica de Bolle.
A escolha de Levy foi bem recebida pelo empresariado e pelo mercado financeiro. É visto como o profissional certo para arrumar a economia combalida de Dilma.
A dúvida é se, ao encarar o lado amargo do ajuste, como alta do desemprego e crescimento ainda menor, a presidente não terá uma recaída que a faça voltar atrás.
Assessores de Dilma dizem que ela sabe o que está fazendo, até porque uma eventual saída de Levy poderia colocar a perder o plano de tirar a economia do buraco nos próximos dois anos, para voltar a crescer na sequência e turbinar o próximo candidato do PT à Presidência -talvez o próprio Lula, que é fiador de Levy.

Editoria de Arte/Folhapress
postado por Blog do Paim @ 01:58

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Dilma prepara 'resgate fiscal' com futuro ministro

Posse da nova equipe econômica, com perfil diferente daquela que atuou no primeiro mandato de Dilma, deverá ocorrer nos próximos dias

Publicado em 26/11/2014, às 07h47


 / Foto: AFP

Foto: AFP



A presidente Dilma Rousseff se reuniu ontem com o futuro titular do Ministério da Fazenda, Joaquim Levy, a fim de acelerar a apresentação de um “pacote” de resgate da credibilidade fiscal do governo. A posse da nova equipe econômica, com perfil diferente daquela que atuou no primeiro mandato de Dilma, deverá ocorrer nos próximos dias. 
Levy, executivo do Bradesco, quer levar para o Tesouro Nacional a economista Eduarda La Rocque, em substituição a Arno Augustin. Presidente do Instituto Pereira Passos (IPP) da prefeitura carioca, Eduarda é formada na PUC-Rio, cuja escola de economia é símbolo da ortodoxia. Ela já foi casada com Edward Amadeo, ministro do Trabalho e secretário de política econômica do governo Fernando Henrique Cardoso. Antes de assumir o IPP, comandou a Secretaria da Fazenda da gestão Eduardo Paes (PMDB) no Rio de Janeiro. 
Complemento
Mais dois nomes devem compor a nova equipe econômica de Dilma: Alexandre Tombini, que será mantido no comando do Banco Central, e Nelson Barbosa, que vai assumir o Ministério do Planejamento. Dilma planeja indicar Arno para a presidência da Itaipu Binacional. 
Nas áreas não econômicas, a presidente decidiu manter José Eduardo Cardozo no Ministério da Justiça e é provável que Arthur Chioro continue na Saúde. Curinga na equipe, o governador da Bahia, Jaques Wagner, pode ocupar Comunicações, no lugar de Paulo Bernardo. Miriam Belchior, atualmente no Planejamento, tem chance de ir para Minas e Energia, pasta hoje dirigida por Edson Lobão (PMDB) - que teve o nome envolvido na Operação Lava Jato. 
Aliados
Com cinco ministérios, o PMDB já começa a reclamar da perda de espaço na equipe. Nem a sigla e nem o PT gostaram da indicação da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) para o Ministério da Agricultura. Na tentativa de contornar o mal-estar, a ordem no PT é dizer agora que Kátia Abreu vai dirigir um ministério para cuidar do agronegócio, enquanto os petistas manterão Desenvolvimento Agrário para fazer a reforma no setor. 
Mas sem ter um contra-argumento convincente, e receoso de prejudicar nomes preferidos pela cúpula do partido para a Esplanada, o PMDB decidiu não mais brigar contra o convite da presidente a Kátia Abreu. A partir de agora, o partido vai esquecer Kátia e lutar para fazer do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), o novo ministro do Turismo, além de influenciar na nomeação do deputado Elizeu Padilha (RS) para algum lugar na equipe do governo. 
O partido quer manter ainda o ministro Moreira Franco à frente da Aviação Civil, além de, quando for a hora, dizer a Dilma que seria bom para a manutenção da base aliada e para a governabilidade as escolhas do líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), e do líder do governo no Senado, Eduardo Braga (AM) para algum ministério. Estes dois últimos disputaram os governos de seus Estados e perderam a eleição. Esperam ser compensados pela fidelidade. 
Dilma, porém, já deixou claro que não deseja abrigar derrotados, à exceção do senador e ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria Armando Monteiro (PTB), que disputou o governo de Pernambuco, perdeu no 1.º turno e acabou com a pasta da Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior. É uma forma de se aproximar dos setores produtivos, argumento também para o convite a Kátia Abreu, que é presidente da Confederação Nacional da Agricultura.

Palavras-chave

domingo, 16 de novembro de 2014

Lava Jato dará a Dilma mais liberdade para nomear ministros, avaliam assessores

A nova fase da Operação Lava Jato, que prendeu executivos de empreiteiras, representa um desgaste para o governo, mas terá o efeito positivo de dar mais liberdade à presidente Dilma para montar seu novo ministério.
Na avaliação de assessores próximos da presidente, ela ficará mais livre para escolher nomes de "impacto" e "de primeira linha" dentro dos partidos de sua base aliada, sem ficar refém da exigência das cúpulas partidárias.
A presidente pode, inclusive, deixar para o final de dezembro ou mesmo, em alguns casos, para janeiro a definição dos nomes de ministros das cotas partidárias de sua equipe do segundo mandato.
Seria uma forma de aguardar os desdobramentos das investigações da Operação Lava Jato, que atinge empreiteiras com contratos com a Petrobras e apura desvio de recursos para partidos governistas, como PT e PMDB.
Além disso, ajudaria na definição sobre o futuro presidente da Câmara dos Deputados. O líder do PMDB, Eduardo Cunha, é visto como favorito, mas não conta com a simpatia do Palácio do Planalto.
Entre o final de novembro e início de dezembro, Dilma deve definir sua equipe econômica. Não só o ministro da Fazenda, mas também o do Planejamento e o presidente do Banco Central.
Assessores dizem que ela pode surpreender na escolha do substituto de Guido Mantega, não optando por nenhum dos nomes citados até agora, como do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles e do ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda Nelson Barbosa.
Alexandre Tombini, atual presidente do BC, deve ficar onde está, segundo assessores. Essa seria a intenção de Dilma, que gosta da sua atuação na condução da política monetária. Logo depois da eleição, a equipe de Tombini subiu a taxa de juros de 11% para 11,25% ao ano.
O presidente do BC foi convocado por Dilma Rousseff para se juntar à comitiva presidencial na reunião do G20, encerrada neste fim de semana na Austrália. Tombini retornou ao Brasil com a petista no avião presidencial.
Depois da equipe econômica, ou mesmo juntamente, Dilma vai definir o grupo de ministros do Palácio do Planalto. Aloizio Mercadante, salvo surpresas de última hora, ficará na Casa Civil.
Miguel Rossetto, hoje no Desenvolvimento Agrário, deve ser deslocado para a Secretaria-Geral da Presidência, pasta hoje ocupada pelo lulista Gilberto Carvalho.
Outro nome cotado para integrar o grupo palaciano é o do governador Jaques Wagner (PT-BA), que tem reunião agendada com a presidente nesta quarta-feira (19).

sábado, 15 de novembro de 2014

Novo governo: Tendência é manter só Mercadante e Chioro

13/11/2014 9:57
Por Leandro Mazzini - de Brasília

 Aloizio  Mercadante e Arthur Chioro
Aloizio Mercadante e Arthur Chioro

A reforma ministerial começou na segunda-feira. Antes de viajar para a Cúpula do G-20na Austrália,  a presidente Dilma teve uma ríspida conversa com o ministro Gilberto Carvalho,  da  Secretaria-Geral  da  Presidência,  e  o  demitiu,  por  críticas  a  ela  numa entrevista no domingo. Na terça os ministros começaram então a entregar as cartas de demissão  pedidas  pelo  chefe  da  Casa  Civil,  Aloizio  Mercadante.  A tendência  da presidente é manter apenas Mercadante e o ministro da Saúde, Arthur Chioro.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Mercadante: Planalto enviará pedido de urgência para LDO

Ministro diz que cenário internacional impactou na economia brasileira 

Agência Estado
País optou por proteger a indústria, o emprego e a renda Antônio Cruz/27.06.2013/ABr

O ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, afirmou na quarta-feira (13) que "seguramente" o Palácio do Planalto enviará pedido de urgência para a tramitação do projeto que trata da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias). Segundo ele, não é necessário enviar outro projeto para acrescentar a urgência.
"O governo continua considerando que o superávit primário é muito importante para reduzir o endividamento, mas nessa conjuntura especifica tivemos que desonerar", disse. "Este ano, precisamos ajudar a amenizar o impacto da crise."
Para justificar o texto enviado na terça-feira (11) pelo governo, que flexibiliza o cumprimento da meta fiscal, Mercadante argumentou que o cenário econômico internacional é adverso. "O cenário internacional é muito difícil e isso impactou a economia brasileira", disse. "Quando olhamos para o G-20, queria destacar isso, só cinco economias têm superávit primário", comparou.
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Mercadante defendeu que o Brasil fez um grande esforço fiscal e que, neste ano, o País optou por proteger a indústria, o emprego e a renda. "Essa foi nossa estratégia, proteger mercado interno, onde conseguimos sustentar produção", disse, acrescentando que o que o governo fez para evitar recessão foi aumentar investimentos. "O governo fez uma opção, abertamente debatida na campanha, de não fazer ajuste ortodoxo", disse.
Como fez na semana passada, Mercadante comparou a situação brasileira ao impasse sofrido pelo governo dos Estados Unidos no parlamento, quando havia discussão sobre rolagem da dívida americana. Hoje, ele afirmou que o Congresso Nacional tem a opção de repetir a experiência americana, em que o país "parou inclusive de pagar salário".
Mercadante disse acreditar que essa não será a opção do Congresso e voltou a dizer que cortar gasto público é como cortar cabelo. "Precisamos fazer sempre", disse. Ele afirmou, ainda, que as contas de Estados e municípios também enfrentam dificuldades. "Existe conjuntura econômica específica. Essa é uma agenda que ajuda o País", disse, acrescentando que serão vistos resultados a médio e curto prazo.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Marta Suplicy entrega carta de demissão ao Palácio do Planalto

Relação da ministra com Dilma Rousseff se desgastou nos últimos meses

Marta Suplicy entrega carta de demissão ao Palácio do Planalto
 
A ministra da Cultura, Marta Suplicy, entregou na manhã desta terça-feira (11) uma carta de demissão ao Palácio do Planalto, informou a assessoria da pasta. Com a decisão, Marta retomará sua cadeira no Senado. Eleita por São Paulo, ela tem mandato até 2018.A saída da ex-prefeita paulistana da Esplanada dos Ministérios é a primeira baixa no primeiro escalão da presidente reeleita Dilma Rousseff depois da eleição presidencial. Marta chefiava a pasta da Cultura desde setembro de 2012. Ela havia substituído Ana de Hollanda no cargo.
Na última terça-feira (4), o Blog da Cristiana Lôbo havia antecipado que Marta tinha decidido se antecipar à reforma ministerial do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff e pedir demissão do Ministério da Cultura. No dia seguinte, entretanto, a ministra admitiu a jornalistas durante evento no Palácio do Planalto que estava "conversando" sobre sua possível saída do ministério.
No meio político, eram frequentes os comentários de que a relação entre Marta e Dilma havia se desgastado ao longo do ano. Segundo o Blog do Camarotti, o fato de a ministra da Cultura ter articulado no início do ano o movimento Volta, Lula, para defender a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição deste ano, gerou mal-estar com a atual chefe do Executivo.
G1

domingo, 9 de novembro de 2014

Henrique Meirelles ou Nelson Barbosa? Conheça os cotados para assumir a Fazenda

Economistas analisam os estilos dos que podem assumir ministério mais importante de Dilma

Jornal do Brasil - Pamela Mascarenhas
A lista dos nomes que podem ser indicados à liderança do Ministério da Fazenda no novo mandato da presidente Dilma Rousseff já mudou algumas vezes, desde o início da campanha eleitoral. A pouco tempo para o anúncio do próximo ministro, alguns aparecem com indicativo de maior certeza, como tendo sido indicados à mandatária pelo ex-presidente Lula - Henrique Meirelles e Nelson Barbosa. Não deixaram de ser mencionados também, contudo, figuras como Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, ou ainda, Aloizio Mercadante, ministro chefe da Casa Civil. O nome com maior força, porém, parece ser o do ex-presidente do Banco Central.
>> Nome de Henrique Meirelles ganha mais força
>> O social-desenvolvimentismo e o segundo turno
Cada um desses nomes dá pistas sobre como seria encaminhada a política econômica nos próximos quatro anos. Economistas consultados pelo Jornal do Brasil  comentam o perfil e as direções que poderiam tomar, considerando o quadro de baixo crescimento. O governo indica que quer aprofundar o diálogo com diferentes setores, inclusive com o mercado financeiro e com os empresários, e a lista oferece nomes que representam essa possibilidade, cada um de seu modo. Após a reunião do G20, que será realizada nos dias 15 e 16 deste mês, na Austrália, o novo ministro será anunciado. 
Francisco Lopreato, professor do Instituto de Economia da Unicamp, alerta para uma tentativa do mercado de "pautar" a presidente. "Aparentemente, não sei se o pessoal já percebeu que quem foi eleita foi a Dilma. Ela ganhou a eleição", diz, lembrando da possibilidade da divulgação de tais nomes serem apenas uma tentativa de "pautar" e "amarrar" a mandatária. 
Bruno Martarello De Conti, professor do Instituto de Economia da Unicamp, também aproveita para criticar que tem se imposto uma espécie de agenda única, do ponto de vista da política econômica, que seria uma austeridade pesada, com política monetária contracionista para combater a inflação a qualquer custo, e uma retração dos gastos públicos. "Isso me assusta um pouco. Quando a gente vê o exemplo da austeridade lá na Europa, é catastrófico. Ele tem servido para acentuar o quadro recessivo e para fazer com que as taxas de desemprego se elevem. Então, eu não gostaria que isso fosse feito de uma forma cavalar porque, no fim das contas, iria segurar ainda mais a economia brasileira, que já está muito controlada, muito modesta, digamos."
De qualquer forma, continua Conti, qualquer um deles teria que mudar um pouco a política econômica, mas não no sentido de promover um ajuste profundo e rápido como o que era prometido pelo que seria o ministro de Aécio Neves (PSDB), Armínio Fraga. Para Conti, ajuste em tamanha proporção não será feito e nem deveria. "Acho que o governo está num momento que tem que reagir a essa pressão que vem sendo feita, de que a despeito da história da Dilma, ela deve se seguir a política econômica que havia sido proposta pelo Aécio. Não é por aí."
>> Economistas lançam manifesto pelo desenvolvimento e inclusão social
Nesta sexta-feira (7), economistas lançaram manifesto pelo desenvolvimento e pela inclusão social, alertando para o pensamento único que estaria sendo veiculado pela imprensa tradicional, de que a austeridade fiscal e monetária seria a única solução para o país, e os perigos dessa perspectiva. Nomes como Maria da Conceição Tavares, Luiz Gonzaga Belluzzo, João Sicsú e Marcio Pochmann lançaram o documento.
Silvio Campos Neto, economista-sênior da Tendências Consultoria, porém, destaca que o mais importante, de início, seria uma sinalização do governo sobre o grau de autonomia que determinado nome teria para "tomar decisões importantes de mudanças que são necessárias".
Henrique Meirelles
Henrique Meirelles
O nome de Henrique Meirelles, presidente do Banco Central no governo Lula (2003-2010), hoje ligado ao PSD, costumava sofrer certa resistência da presidente, por sua maior ligação com o setor financeiro e também pela corrente econômica que poderia seguir. Parece, todavia, que a situação estaria mudando. Supostamente indicado por Lula como principal alternativa, se anunciado, colocaria Nelson Barbosa no Ministério do Planejamento. 
Em entrevista coletiva, nesta quinta-feira, no Palácio do Planalto, a presidente afirmou que vai fazer o "dever de casa" e apertar o controle da inflação e que também fará um reajuste em todas as contas do governo. Sinalizou ainda que não pretende mexer na meta de inflação ou no intervalo de tolerância. O atual ministro, Guido Mantega, alertou que, para garantir um cenário mais positivo, será necessário fazer corte nas despesas públicas, que poderia ocorrer em relação ao seguro desemprego, auxílio doença e pensão por morte. O ministro também declarou que seu sucessor terá o desafio  de fazer a economia crescer em um momento de transição na economia mundial. 
Meirelles hoje é presidente do Conselho da J&F (holding brasileira que controla empresas como JBS, Flora e Eldorado), e é chairman do Lazard Americas. Antes de exercer a presidência do Banco Central, foi presidente de Global Banking do FleetBoston Financial e presidente mundial do BankBoston. Foi também membro do conselho da Harvard Kennedy School of Government, da Sloan School of Management do MIT (Massachusetts Institute of Technology), da Carroll School of Management do Boston College, bem como membro do conselho do Conservatório de Música da Nova Inglaterra e do Instituto de Arte Contemporânea de Boston.
Em sua coluna publicada na Folha de S. Paulo no dia 2 deste mês, intitulada Crescimento e Inclusão Social, diz que é preciso fazer os investimentos necessários em produtividade e consolidar a estabilidade. 
Para o economista-sênior da Tendências, Silvio Campos Neto, Meirelles seria um nome mais bem recebido pelo mercado, já que seu viés um pouco mais ortodoxo é conhecido por todos. Com ele no comando da pasta, pode-se imaginar uma política econômica um pouco mais "equilibrada", que promovesse medidas importantes em relação ao ajuste de preços relativos, com uma política fiscal mais transparente e com o ajuste fiscal necessário. 
"Talvez ele encamparia algum sentimento de que algumas reformas, algumas mudanças, seriam necessárias, tudo isso criando, então, um sentimento um pouco mais favorável, eu diria bem mais favorável, em relação às perspectivas para os próximos quatro anos", acredita Campos Neto.
O economista também destaca que Meirelles na Fazenda poderia propor e lutar por algumas reformas importantes, "até pelo viés do mandato anterior, um viés um pouco mais ortodoxo". Ele poderia ainda, de certa forma, ser um polo de força para tentar colocar ajustes difíceis e algumas discussões mais importantes em relação a reformas. "Mas isso é muito difícil, porque envolve, logicamente, a negociação política. Mas, no caso dele, é claro que a possibilidade nesse aspecto é um pouco maior em relação a outros nomes."
Bruno Martarello De Conti, professor do Instituto de Economia da Unicamp, aponta que Meirelles pode ser encarado como um nome mais técnico, como alguém que já foi do Banco Central e que vem também do mercado financeiro, originalmente, que sabe como funciona a máquina pública. "Eu acho que, no fundo, por trás dos critérios técnicos, sempre existe as questões políticas. Enfim, é difícil dizer se uma coisa é certa ou errada tecnicamente do ponto de vista da teoria econômica, sem saber que por trás também tem objetivos mais profundos de longo prazo, mas eu acho que numa leitura que os mercados fariam seria isso (de ser um nome mais técnico", reforça Conti.
Antonio Carlos Macedo, professor do Instituto de Economia da Unicamp, por sua vez, agrega que o ex-presidente do BC seria o candidato de quem acredita que a confiança é o maior problema, e que ela poderia ser restaurada por políticas e propostas para o mercado financeiro. Nesse sentido, "é mais ou menos evidente que o Meirelles seria o nome mais indicado". "O Meirelles fará uma política mais austera. Uma ideia de colocar a economia nos trilhos e, uma vez colocada a economia nos trilhos, por uma política de austeridade, você, em algum momento, retoma o crescimento."
Francisco Lopreato, professor do Instituto de Economia da Unicamp, analisa que, como é uma pessoa que vem do mercado financeiro, seus interesses poderiam ser "ligados umbilicalmente" com o mercado financeiro. "Se nós tomarmos como base a política que ele seguiu durante o período que ele foi presidente do Banco Central, é uma política bastante conservadora."
Lopreato também destaca que, durante o período em que esteve no BC, Meirelles implantou uma alta taxa de juros e que, inclusive na crise de 2009, subiu a taxa. "Quer dizer, subiu não, continuou subindo, porque ele já vinha subindo antes. (...) Eu acho uma visão bastante conservadora. Então acredito que ele, no Ministério da Fazenda, não mudaria o perfil conservador forte que ele mostrou no Banco Central."
De acordo com Lopreato, o cuidado com a política fiscal deveria ser tomado com ações paulatinas, sem um corte fiscal mais forte no começo do segundo governo Dilma, por exemplo. "Ele não vai mandar no Banco Central, mas, do ponto de vista da política fiscal, pode ter um controle bem maior da política fiscal com aumento do superávit. Por isso, faria tudo que estivesse ao alcance dele para ter uma articulação com o Banco Central de modo a fazer uma política mais conservadora."
Nelson Barbosa
Nelson Barbosa
Nelson Barbosa é apontado como o ministro que estaria mais alinhado com a presidente. Ph.D em Economia pela New School for Social Research (Nova Iorque, EUA), ele foi secretário executivo do Ministério da Fazenda, de 2011 a 2013, e exerceu diversos cargos na administração Federal, como de secretário de Acompanhamento Econômico (2007-08) e secretário de Política Econômica (2008-10), no Ministério da Fazenda. Foi também presidente do Conselho do Banco do Brasil (2009-13) e membro do Conselho de Administração da Vale (2011-13). 
As experiências de Barbosa no governo incluem passagens pelo Banco Central do Brasil (1994-97), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2005-06) e Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (2003). Atualmente, é professor Titular da Escola de Economia de São Paulo (FGV-EESP), professor adjunto do Instituto de Economia (IE/UFRJ), pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV) e membro dos conselhos de administração da Cetip e do Banco Regional de Brasília (BRB).
Seu nome foi dado em alguns momentos como o favorito, principalmente levando em conta uma suposta resistência de Dilma ao nome de Meirelles, mas agora cogita-se também que, caso não seja indicado à presidência da Fazenda, pode assumir o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, no lugar de Miriam Belchior.
Na avaliação do economista Silvio Campos Neto, Barbosa não traria uma percepção ruim para os mercados e seria um nome recebido de uma forma um pouco mais neutra em relação a Meirelles. Não seria visto de forma negativa, principalmente levando em conta que em entrevistas recentes evidenciou que não concorda com uma série de caminhos  que foram seguidos nos últimos anos, principalmente sobre uma "maquiagem de contas públicas" e em relação ao controle de preços administrados. "No caso dele, alguns ajustes importantes seriam esperados."
Antonio Carlos Macedo, professor da Unicamp, enxerga Barbosa como um excelente economista, com uma formação acadêmica impecável, mas que não é um "economista da torre de marfim", mas sim um economista que mostrou saber dialogar tanto com o Congresso quanto com os mercados. Seria um nome com capacidade, mesmo não sendo o nome preferido de todos, de gerar alguma simpatia, um nome capaz de ser aceito por fatias consideráveis da classe política, do mercado, dos economistas, de maneira geral. 
"Todo mundo acha que o ano que vem vai ser um ano difícil, e possivelmente será realmente um ano difícil. O Nelson tem a seu favor a capacidade de operar num ano difícil, inclusive a capacidade de, se necessário, tomar decisões politicamente complicadas, mas sem perder de vista, eu acho que é isto que o caracteriza, uma preocupação de longo prazo com o crescimento e com a transformação estrutural da economia brasileira. Ou seja, eu tenho em relação ao Nelson uma certeza que eu não tenho em relação aos outros dois nomes, que é a certeza de que ele sabe o que quer o desenvolvimento de uma economia ainda periférica, uma economia de renda média, não paupérrima, mas de renda média, como a economia brasileira", explica Macedo.
Se necessário for, acredita Macedo, Barbosa teria todas as condições técnicas de implementar uma política com alguns tons de austeridade, mas sem perder de vista a preocupação com as reformas de longo prazo para o desenvolvimento da política brasileira. "Se o Nelson tiver de ministrar pílulas  amargas, eu sei que elas serão temporárias, serão pensadas como parte de um processo no qual não vai demorar muito para que sejam revertidas, ao mesmo tempo outras políticas de mudança estrutural vão estar sendo pensadas, gestadas e implementadas."
Bruno De Conti também lembra que Nelson manteve diálogo com os mercados, principalmente no período mais recente, desde que deixou a Secretaria do Ministério, e que ainda tem objetivos de longo prazo mais alinhados com o projeto desenvolvimentista, que, bem ou mal, ainda caracteriza o governo Dilma. 
"Se a Dilma foi reeleita é porque, de alguma forma, a população brasileira legitimou esse projeto desenvolvimentista de continuidade de distribuição de renda, de inclusão social. Então, nesse sentido, eu acho que o Nelson incorpora um pouco mais essa marca dos governos Lula e Dilma, de prosseguir nesse esforço pelo desenvolvimento, a respeito de estar tendo esse diálogo com os mercados."
Para Lopreato, a política econômica executada por Barbosa não seria igual a do Mantega, mas seria mais compatível com uma visão social desenvolvimentista, que seria a linha que o governo pretende seguir. Nelson teria uma preocupação com a política fiscal, mas não faria um corte fiscal draconiano para aumentar o superávit primário. Sua preocupação maior seria criar condições para que crescesse o investimento público e privado para retomar o avanço do PIB, negociando com o setor privado, e a retomada dos investimentos não só em infraestrutura como em outros setores, além da melhor definição de um projeto de investimentos em outras áreas, como em serviços públicos. "Com isso melhoraria as condições fiscais, sem abalar a questão da inflação", aponta Lopreato. 
Tags: Dilma Rousseff, economia, ministro da fazenda, opções, política
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