A nomeação de Edinho Silva para comandar a Secretaria de Comunicação Social (Secom) do governo federal faz parte da estratégia do PT para enfrentar a crise política que engole o partido, com foco voltado para o Estado de São Paulo, epicentro das manifestações do último dia 15 de março. Edinho foi presidente do diretório no Estado e tem trânsito livre com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ambos comungam a ideia de que o PT só conseguirá se fortalecer no embate político a partir de uma reação da gestão Dilma, a exemplo do que o próprio Lula fez em 2005, no auge do escândalo do mensalão. No comando da comunicação, Edinho deverá adotar a mesma linha que marcou sua trajetória até aqui: um militante fiel e com boa formação ideológica, porém um político pragmático nas decisões e conciliador nos momentos de embate.
Edinho é um ferrenho defensor no PT da reaproximação do partido com os movimentos sociais e do fortalecimento do partido no Estado de São Paulo. Em 2013, em entrevista a ÉPOCA, ele criticou a relação do PT com suas bases históricas: “Digamos que o PT não priorizou a relação com os movimentos sociais. Isso foi um erro de interpretação, acreditar que somente as relações institucionais dariam conta da realidade”. Na visão de Edinho, os petistas precisam recuperar sua força na sociedade e entre os jovens para se contrapor ao que ele define como uma agenda “conservadora” dos adversários da oposição. Na condição de presidente do PT-SP, Edinho era contra o controle dos conteúdos produzidos pelos meios de comunicação.
Em 2007, em seu segundo mandato como prefeito de Araraquara (SP), Edinho surgiu como um nome de consenso para pacificar o PT paulista, dilacerado após o mensalão (2005). Apesar de ter defendido uma autocrítica do partido em relação ao escândalo, ele não encampou o movimento de “refundação” do PT, bandeira de correntes mais à esquerda da direção e que agora está de volta com a crise do petrolão. É considerado um “moderado” dentro do partido, porém um militante aguerrido e leal.
Ao mesmo tempo em que acenou para a militância do PT durante sua gestão à frente do diretório estadual, Edinho sempre atuou como um conciliador na política. Defendeu alianças amplas dos petistas com outras siglas à direita do espectro político, se aproximou de empresários do agronegócio e manteve diálogo constante com os governos tucanos de São Paulo. No ano passado, foi o tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff à reeleição. Ele conquistou a confiança de Dilma ainda em 2009, quando foi o primeiro dirigente paulista a defender a candidatura da então ministra da Casa Civil à sucessão de Lula.
A posse de Edinho está marcada para a próxima terça-feira, dia 31, quando o PT, com Lula na organização, fará atos de mobilização pró-Dilma e pró-partido em diversas cidades. No início deste mês, Edinho publicou em seu site um texto intitulado “Carta ao PT”, no qual ele admite erros do partido e do governo, mas aponta o que chama de ataque de uma “direita golpista”. “Há, sim, erros no nosso campo político. Nunca na nossa história assimilamos com tanta facilidade o discurso oportunista de uma direita golpista e nunca estivemos tão paralisados”.
Com Edinho Silva fortalecido no partido, quem deverá perder espaço é o tesoureiro da sigla João Vaccari Neto, alvo da Operação Lava Jato que apura corrupção e outras irregularidades na Petrobras. O novo ministro da Secom está no grupo dos que defendem o afastamento imediato de Vaccari da tesouraria até que todas as investigações sejam concluídas e os processos julgados. Vaccari é réu em ação da Justiça Federal do Paraná. “Se pessoas se utilizaram do PT para enriquecimento, toda vez que isso for provado, esses têm que pagar e nós temos que ser os primeiros a defender a penalização”, escreveu Edinho em outro trecho da “Carta”.
A escolha de um político petista para o cargo de ministro-chefe da Secom interrompe uma sequência de jornalistas profissionais à frente da secretaria na atual gestão. Thomas Traumann, que se demitiu na última quarta-feira, havia sucedido Helena Chagas - os dois tiveram passagens de sucesso por importantes redações do país. Edinho Silva é sociólogo de formação.