terça-feira, 31 de março de 2015

Joaquim Levy diz estar confiante sobre acordo para dívida dos estados

  • 30/03/2015 20h07
  • Brasília
Wellton Máximo – Repórter da Agência Brasil* Edição: Armando Cardoso
O senador Romero Jucá, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e o presidente do Senado, Renan Calheiros, durante encontro (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Após encontro com os senadores Romero Jucá e Renan Calheiros, Joaquim Levy disse que o mais importante é que todos contribuam para o ajusteFabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse hoje (30) estar confiante em relação a um acordo para renegociação da dívida dos estados. Ele fez o comentário ao sair de uma reunião de cerca de uma hora com o presidente do Senado, Renan Calheiros. “Estou muito confiante em um encaminhamento positivo. Há um entendimento generalizado dos entes [públicos]”, declarou Levy. Apesar de mostrar confiança em relação a um acordo, o ministro informou que os estados terão de fazer concessões, indicando que o projeto de lei aprovado semana passada pela Câmara dos Deputados poderá sofrer ajustes no Senado. “O importante é todo mundo contribuir para o ajuste. Hoje, a gente tem de vencer essa etapa para já criar as bases para a retomada do crescimento e do emprego. Acho que há cada vez mais convergência nesse entendimento”, acrescentou o ministro. Atualmente, a dívida dos estados renegociada com a União no fim da década de 90 é corrigida pelo Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), mais 6%, 7,5% ou 9% ao ano. Um projeto de lei aprovado ano passado mudou o indexador para a taxa Selic (juros básicos da economia) ou a inflação oficial pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), mais 4% ao ano, prevalecendo o menor índice. Como a lei da mudança dos indexadores não foi regulamentada até agora, semana passada a Câmara aprovou um projeto de lei com prazo de 30 dias para o governo federal aplicar os novos índices de correção aos contratos assinados. A medida teria impacto fiscal de pelo menos R$ 3 bilhões para a União em 2015, ano em que o Ministério da Fazenda está comprometido em obter meta de superávit primário (economia para pagar os juros da dívida pública) de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas no país). * Colaborou Mariana Jungmann

segunda-feira, 30 de março de 2015

Novo ministro da Educação chega ao cargo com ideias arrojadas

28/3/2015 20:26
Por Redação - de Brasília e São Paulo

Janine Ribeiro é um intelectual respeitado no meio acadêmico
Janine Ribeiro é um intelectual respeitado no meio acadêmico

Novo ministro da Educação, o filósofo Renato Janine Ribeiro, professor de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo, é o substituto do ex-governador do Ceará Cid Gomes, que deixou o governo após um bate-boca com deputados no plenário da Câmara. A posse do novo ministro vai ocorrer em 6 de abril, segundo a Presidência.
Ribeiro é formado em filosofia pela USP, tem mestrado pela Sorbonne, doutorado pela USP e pós-doutorado pela British Library. O novo ministro da Educação, área apontada como prioritária pela presidente Dilma Rousseff em seu segundo mandato, tem ainda 18 livros publicados além de vários ensaios e artigos em publicações científicas.
Em entrevista a jornalistas, neste sábado, Ribeiro disse apenas que recebeu o convite da presidente Dilma Rousseff “com satisfação” e que fará uma “imersão” sobre os temas mais importantes da pasta, que assumirá no dia 6 de abril.
– Até lá, eu vou ter que me dedicar muito ao tema. Não vou dar declarações até a data porque se trata de um ministério muito complexo, embora eu conheça a área de educação e já tenha trabalhado no ministério antes – disse.
Ao ser questionado sobre o lema “Pátria Educadora”, lançado pela presidente Dilma Rousseff logo após a vitória eleitoral de 2014, não fez qualquer objeção.
– É uma política de governo da presidente que será mantida – afirmou.
Filósofo homenageado no campo acadêmico, Ribeiro concluiu seu mestrado pela prestigiada universidade francesa de Sorbonne aos 23 anos e, depois, o doutorado pela Universidade de São Paulo. No Ministério que agora chefia, foi diretor de avaliação da Capes, fundação do Ministério da Educação, entre 2004 e 2008. Além disso, foi membro do Conselho Deliberativo do CNPq, entre 1993 e 1997, do Conselho da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), de 1997 a 1999, e secretário da SBPC, de 1999 a 2001. Além disso, publicou 18 livros. Entre eles, “A sociedade contra o social”, ganhador do Prêmio Jabuti 2001.
Janine Ribeiro, um nome respeitado pela academia, pode reabrir os canais de diálogo entre o governo Dilma e os intelectuais, no momento em que o PT é alvo de uma escalada de ódio político. Na educação, suas ideias são consideradas arrojadas e ele defende currículos mais abertos, que estimulem a criatividade dos estudantes.
“A educação não termina no último dia do ensino profissional ou do curso superior, nem nunca”, disse ele, num artigo recente publicado no diário especializado Valor Econômico.
“Há milhares de profissões”, afirmou. “No limite, cada um cria a sua. Profissão, emprego, orientação sexual, estado civil, crenças políticas e religiosas, tudo isso se combina como um arco-íris felizmente enlouquecido. Ninguém é mais obrigado a se moldar a um pacote. Mas isso não é fácil, exige uma interminável descoberta de si e, por que não dizer, coragem pessoal.”
O novo ministro defende, ainda, um associação cada vez maior entre educação e cultura. “Cada vez mais, a educação deverá se culturalizar: um, deixando de seguir currículos rígidos; dois, tornando-se prazerosa; três, criativa.”
Leia, a seguir, um trecho do seu artigo:
A Cultura deixará de ser o sobrinho menor da Educação. O próprio caráter imprevisível da ação cultural e a dificuldade de planejá-la fazem dela um dos modelos para o que deve ser a educação numa sociedade criativa. Deve-se conservar na educação um currículo norteador, que leve da infância à idade adulta. Mas para entender o mundo que hoje desponta é bom ter claro o seguinte: a educação não termina no último dia do ensino profissional ou do curso superior – nem nunca.
Alguns diplomas, como o de médico, até poderão ser concedidos com exigência de atualização, a cada tantos anos. Essa atualização será dada por cursos avaliados e fará parte da área da Educação. Mas além das atualizações obrigatórias, previstas em lei, será necessário – e demandado – um crescente leque de cursos abertos, sem definição profissional, que aumentarão incrivelmente a qualidade da vida dos alunos. Já temos iniciativas neste sentido, inclusive uma empresarial (a Casa do Saber), que têm dado certo. Enfatizo: esses cursos serão mais culturais, não estritamente educacionais. Para cada curso de atualização em genoma para profissionais de saúde, haverá dezenas sobre filmes de conflitos entre pais e filhos, de aprendizado com religiões distantes, de arte em videogames, destinados a cidadãos em geral, de qualquer profissão – e a lista não acaba.
A cultura é indutora de liberdade. Romances, filmes e mesmo novelas nos abrem para experiências com as quais, no mundinho em que cada um nasceu e cresce, nunca pudemos sonhar. (É inquietante como estamos voltando a viver em guetos; a própria dificuldade de tantos aceitarem que houve gente que votou diferente deles, na recente eleição, é sinal desse fechamento de cada grupo sobre si – o que pode limitar a capacidade de cada um se enriquecer com a compreensão do outro, do diferente).
Quem cresceu num meio limitado pode descobrir que o sentido de sua vida é a fotografia (como o jovem favelado que é o narrador do filme “Cidade de Deus”): um artista se revela. Ou um menino sensível, alvo de “bullying” na escola, descobre que é homossexual e que não está sozinho no mundo: um ser humano se liberta da ignorância que o prendia. Assim, a cultura aumenta seu próprio contingente – com a descoberta de novos artistas – mas, acima de tudo, amplia a liberdade humana.
Hoje, pela primeira vez na história mundial, cada um de nós pode efetuar a sintonia mais fina possível de sua vocação. Antigamente, cada pessoa vivia num pacote identitário: por exemplo, homem branco abonado, casado, filhos, advogado ou médico ou engenheiro. Tudo isso vinha junto. Hoje, as possibilidades se ampliaram muitíssimo. Há milhares de profissões. No limite, cada um cria a sua. Profissão, emprego, orientação sexual, estado civil, crenças políticas e religiosas, tudo isso se combina como um arco-íris felizmente enlouquecido. Ninguém é mais obrigado a se moldar a um pacote. Mas isso não é fácil, exige uma interminável descoberta de si e, por que não dizer, coragem pessoal. A cultura ajuda aqui, porque nenhum setor da aventura humana nos capacita tanto para, cada um de nós, descobrir sua diversidade única.”
Em um blog na internet, Janine também organiza alguns dos principais artigos que publicou ao longo de sua vida acadêmica.
Entre os temas abordados, constam temas como “a nova política” (leia aqui), a democracia direta (leia aqui), e os dilemas entre a ética pura e a ética de responsabilidade, adotada por quem assume funções políticas (leia aqui). “É política assim a ação que assume como seu o ponto de vista da criação, que pretende moldar, criar, o social. Há política quando nos fazemos sujeitos de uma realidade, isto é, quando não a tomamos por dada, ou por independente da ação humana, mas a concebemos como resultando dessa ação – e, melhor ainda, nos propomos a agir, moldando o mundo”, diz ele.


domingo, 29 de março de 2015

Edinho Silva quer retomar diálogo entre governo e veículos de comunicação

28/3/2015 20:15
Por Redação - de Brasília a São Paulo

Edinho Silva é sociólogo e  ocupa hoje a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República
Edinho Silva é sociólogo e ocupa hoje a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República

Ex-deputado do PT paulista e tesoureiro da campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff, o ministro Edinho Silva inicia, nesta terça-feira, seu expediente na Secretaria de Comunicação Social. Edinho assume o posto no lugar de Thomas Traumann, que deixou o cargo na última quarta-feira. Sociólogo e professor, Edinho também foi presidente do PT de São Paulo e por duas vezes prefeito de Araraquara.
O novo ministro terá um papel mais político do que seus antecessores, segundo uma fonte do Palácio do Planalto ouvida pela agência inglesa de notícias Reuters. A posse está marcada para o dia 31 de março. O secretário de imprensa, Olímpio Cruz, permanecerá no cargo e deve comandar os contatos mais frequentes com a imprensa, segundo essa fonte, que falou sob condição de anonimato. Ainda não está definido, no entanto, se o novo ministro escolherá um porta-voz oficial da presidente.
A saída de Traumann ocorreu após o vazamento de documento creditado à Secom com críticas à comunicação do governo, que seria “errada e errática”. Segundo a análise feita, haveria um “caos político” na gestão petista. Dilma disse a jornalistas que o documento, revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo, não era “oficial” e que não tinha sido discutido pelo Executivo.
Traumann havia assumido o cargo no começo de 2014, quando a jornalista Helena Chagas deixou o posto. Ele foi o terceiro ministro a sair do cargo depois que a presidente tomou posse do segundo mandato este ano. Também deixaram o governo Marcelo Nery, ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, e Cid Gomes, ex-ministro da Educação. Nery foi substituído por Mangabeira Unger.
Nos próximos dias, Dilma deve escolher um novo ministro da Educação. Ainda é aguardada, no PMDB, a nomeação do ex-presidente da Câmara dos Deputados Henrique Eduardo Alves para um ministério. O mais provável é que ele assuma a pasta do Turismo, segundo disse uma fonte do partido à Reuters sob condição de anonimato.
Reação imediata
Edinho Silva tem liderança no PT e familiaridade com as questões relativas à Comunicação e a reação da mídia conservadora à sua nomeação foi imediata, com manifestações contrárias ao novo ministro. Em uma rápida entrevista, neste sábado, Silva contrariou os críticos
– Estão dizendo que fui escolhido para o cargo para direcionar as verbas de publicidade. Só quem não me conhece pode achar que vou ocupar um cargo público para manipular recursos. Só quem não me conhece pode achar que vou ocupar cargo público para fazer algo que não seja de interesse da sociedade – disse.
O novo ministro afirmou que pretende aprofundar o diálogo com os meios de comunicação, para que a informação chegue à sociedade.
– A presidente Dilma foi direta. Pediu que eu estabeleça o diálogo com os veículos (de comunicação). A prioridade é estabelecer o diálogo com os veículos para que a informação chegue à sociedade. Este governo conduziu o Brasil em momentos difíceis. Este governo tem credibilidade para dizer que os ajustes são necessários para o Brasil voltar a crescer e continuar gerando renda e emprego – afirmou.
Ele também minimizou o fato de ter sido tesoureiro da campanha presidencial de Dilma:
– O financiamento da campanha da presidente não tem problema algum. É transparente e legal. Foi aprovado por unanimidade”, disse ele. “O financiamento da campanha é algo que me credencia como homem público. Eu me orgulho.




sexta-feira, 27 de março de 2015

Escolha de Edinho Silva fortalece militância do PT e enfraquece Vaccari

O novo ministro da Comunicação Social está no grupo de quem defende o afastamento imediato do tesoureiro do partido, investigado na Operação Lava Jato

ALBERTO BOMBIG
27/03/2015 17h07
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Edinho Silva, do PT, na Assembleia Legislativa de São Paulo, em 2013 (Foto: Letícia Moreira / Editora Globo)
A nomeação de Edinho Silva para comandar a Secretaria de Comunicação Social (Secom) do governo federal faz parte da estratégia do PT para enfrentar a crise política que engole o partido, com foco voltado para o Estado de São Paulo, epicentro das manifestações do último dia 15 de março. Edinho foi presidente do diretório no Estado e tem trânsito livre com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ambos comungam a ideia de que o PT só conseguirá se fortalecer no embate político a partir de uma reação da gestão Dilma, a exemplo do que o próprio Lula fez em 2005, no auge do escândalo do mensalão. No comando da comunicação, Edinho deverá adotar a mesma linha que marcou sua trajetória até aqui: um militante fiel e com boa formação ideológica, porém um político pragmático nas decisões e conciliador nos momentos de embate.
Edinho é um ferrenho defensor no PT da reaproximação do partido com os movimentos sociais e do fortalecimento do partido no Estado de São Paulo. Em 2013, em entrevista a ÉPOCA, ele criticou a relação do PT com suas bases históricas: “Digamos que o PT não priorizou a relação com os movimentos sociais. Isso foi um erro de interpretação, acreditar que somente as relações institucionais dariam conta da realidade”. Na visão de Edinho, os petistas precisam recuperar sua força na sociedade e entre os jovens para se contrapor ao que ele define como uma agenda “conservadora” dos adversários da oposição. Na condição de presidente do PT-SP, Edinho era contra o controle dos conteúdos produzidos pelos meios de comunicação.
Em 2007, em seu segundo mandato como prefeito de Araraquara (SP), Edinho surgiu como um nome de consenso para pacificar o PT paulista, dilacerado após o mensalão (2005). Apesar de ter defendido uma autocrítica do partido em relação ao escândalo, ele não encampou o movimento de “refundação” do PT, bandeira de correntes mais à esquerda da direção e que agora está de volta com a crise do petrolão. É considerado um “moderado” dentro do partido, porém um militante aguerrido e leal.
Ao mesmo tempo em que acenou para a militância do PT durante sua gestão à frente do diretório estadual, Edinho sempre atuou como um conciliador na política. Defendeu alianças amplas dos petistas com outras siglas à direita do espectro político, se aproximou de empresários do agronegócio e manteve diálogo constante com os governos tucanos de São Paulo. No ano passado, foi o tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff à reeleição. Ele conquistou a confiança de Dilma ainda em 2009, quando foi o primeiro dirigente paulista a defender a candidatura da então ministra da Casa Civil à sucessão de Lula.
A posse de Edinho está marcada para a próxima terça-feira, dia 31, quando o PT, com Lula na organização, fará atos de mobilização pró-Dilma e pró-partido em diversas cidades. No início deste mês, Edinho publicou em seu site um texto intitulado “Carta ao PT”, no qual ele admite erros do partido e do governo, mas aponta o que chama de ataque de uma “direita golpista”. “Há, sim, erros no nosso campo político. Nunca na nossa história assimilamos com tanta facilidade o discurso oportunista de uma direita golpista e nunca estivemos tão paralisados”.
Com Edinho Silva fortalecido no partido, quem deverá perder espaço é o tesoureiro da sigla João Vaccari Neto, alvo da Operação Lava Jato que apura corrupção e outras irregularidades na Petrobras. O novo ministro da Secom está no grupo dos que defendem o afastamento imediato de Vaccari da tesouraria até que todas as investigações sejam concluídas e os processos julgados. Vaccari é réu em ação da Justiça Federal do Paraná. “Se pessoas se utilizaram do PT para enriquecimento, toda vez que isso for provado, esses têm que pagar e nós temos que ser os primeiros a defender a penalização”, escreveu Edinho em outro trecho da “Carta”.
A escolha de um político petista para o cargo de ministro-chefe da Secom interrompe uma sequência de jornalistas profissionais à frente da secretaria na atual gestão. Thomas Traumann, que se demitiu na última quarta-feira, havia sucedido Helena Chagas - os dois tiveram passagens de sucesso por importantes redações do país. Edinho Silva é sociólogo de formação.

sábado, 14 de março de 2015

Falta dialogar com a sociedade, diz ministro


Beto Barata - 13.mar.2015/Folhapress
Ricardo Berzoini, ministro das Comunicações, em Brasília
Ricardo Berzoini, ministro das Comunicações, em Brasília



Primeiro ministro de Dilma a fazer autocrítica no atual momento de crise, o titular das Comunicações, Ricardo Berzoini, afirma que o governo precisa se comunicar melhor com a sociedade tanto sobre o ajuste fiscal quanto sobre os desafios políticos.
"As pessoas gostam de ouvir a verdade", diz ele em entrevista à Folha.
Sobre a regulação da mídia, projeto dos sonhos de seu partido, o PT, o ministro afirmam que tem uma página em branco. E admite: se levar uma proposta do governo sem consenso com os demais setores envolvidos, o projeto sequer tramitará.
*
Amanhã tem o protesto. Um mês atrás o governo achava que seria pequeno. Ricardo Berzoini - Não me surpreenderia se houver uma presença elevada de público. Especialmente porque temos um momento político com vários desafios colocados para o governo e para o Brasil. Nós precisamos estabelecer uma dinâmica de comunicação que permita as pessoas saberem desses desafios de maneira didática, tanto na questão econômica, que assumiu uma complexidade que não tinha há um ano, como na política, com a repercussão da Lava Jato, que coloca o tema negativo da corrupção. Nosso erro foi termos nos comunicado mal.
Está fazendo uma autocrítica?
Acho que o governo, no conjunto, e eu me incluo, não fez uma interlocução mais objetiva, o que prejudica a percepção das pessoas do que está em jogo. O Brasil enfrentou durante seis anos uma crise mundial de altíssimo impacto, e apesar disso conseguimos a menor taxa de desemprego da história em dezembro e elevação real de 70% do salário mínimo. Mas, ao mesmo tempo, esgotamos os espaços fiscais. Mas a crise foi muito além. Estamos entrando no sétimo ano de crise internacional. Não quero, no entanto, atribuir somente as nossas dificuldades à crise interna.

Na economia, que autocrítica faz?
Acho que na avaliação da duração da crise e na utilização dos mecanismos anticíclicos, talvez tenhamos ido um pouco além do que era possível, e talvez até aquém do que era necessário. Então agora é hora de reorganizar o orçamento sem prejudicar as políticas sociais fundamentais e sem comprometer os investimentos mais fundamentais. Não é um ajuste do tipo 'para tudo', mas essencial para chegar em 2016 com crescimento significativo.

Na campanha, vocês esconderam da população a real condição da economia?
Não, porque os números da economia são publicados todo mês. E algumas coisas se acirraram nos últimos meses do ano, como preço do petróleo e commodities. Mas nossos programas sociais foram mantidos. Não haverá qualquer tipo de aventura orçamentária. Assim como o fato de haver o ajuste não significa que o orçamento acabou.

O Datafolha trouxe em fevereiro a percepção de que Dilma mentiu na eleição. O que fazer para mudar essa imagem?
As pessoas fazem diferencia aquilo que é necessidade daquilo que é perversidade. Quando a situação é mais difícil, tem que buscar equilibrar as contas. É razoável que as pessoas se sintam preocupadas em relação ao futuro. As pessoas se perguntam sobre o emprego, a renda. A percepção da veracidade do que foi dito na campanha é algo que vai se construir a longo do mandato, não no curto prazo. Não podemos nos preocupar com pesquisas.

O sr. espera reatar com o eleitorado, é isso?
Claro, evidente. Em vários momentos da história do Brasil muitos governos enfrentaram impasses. E a gente supera isso aprovando as medidas do ajuste fiscal, dialogando de forma transparente com a população.

Esse diálogo transparente faltou na campanha. Na campanha vocês diziam que a oposição tiraria o feijão da mesa do trabalhador, faria tarifaço. Hoje, vocês estão aumentando os preços de luz, gasolina.
Não estamos fazendo ruptura com o discurso da campanha. Em crises anteriores, o ajuste era sobre os trabalhadores, a baixa renda e até sobre a classe média. Ficaram seis anos sem reajuste da tabela do Imposto de Renda. Hoje, discutimos se vai ser de 4,5% ou 6,5%. E não acredito em recessão este ano. Temos um momento que vai exigir de nós esforço para convencer as pessoas de que esse é o caminho. É esse o problema que nós tempos até agora, nós não conseguimos realizar uma comunicação eficiente em relação a isso.

De quem é a culpa por comunicar mal?
Nós todos temos responsabilidade de dialogar de maneira franca e transparente com o conjunto dos movimentos sociais, com empresários, com a imprensa, para deixar claro que o esforço que foi feito e que manteve desemprego baixo e renda alta não tem mais espaço para continuar. As pessoas gostam de ouvir a verdade. Como disse a presidente, a gente faz isso em casa e nas empresas.

Para vocês, diálogo franco é dizer das dificuldades atuais. Mas não diz que o ajuste só é desse tamanho por erros lá de trás.
Nós fizemos esforço para manter a atividade econômica. Evidentemente chegamos no limite, que não foi detectado em 2012, 2013. Foi detectado no fim de 2014. A contabilidade pública é transparente. Prestamos contas ao TCU. Não temos como esconder nossas contas de maneira sorrateira. Era necessário fazer para buscar o melhor.

Como a gente sai do buraco?
Com essa estabilidade fiscal, criando condições para que haja credibilidade efetiva de nossa política econômica dentro de um novo viés, que não é mais o anticíclico. Realizar investimentos. Não há nenhuma expectativa de que não haja investimentos. Eles vão ocorrer. O que estamos dimensionando é quanto temos de recursos dentro do que tempos. Não dá para imaginar que o país vai parar de investir este ano.

Manifestações vão crescer?
Isso é futurologia. O Brasil consolidou a cultura de participação pelas redes sociais, que acelera as mobilizações. Não há razão para tratar as manifestações como problema. Quanto mais a gente politizar e mostrar o que está em jogo e o que pode ser feito, é bom.

Mas essas manifestações não são a de junho de 2013. As atuais pedem o impeachment da presidente.
É um discurso golpista porque não haja os pressupostos fundamentais para isso, o que não fortalece a democracia. Não devemos aceitar violência nem a ruptura da ordem institucional. Quando há manifestação a favor ou contra, tempos de respeitar.

Mas com tão pouca popularidade ela não corre o risco de virar um Fernando Haddad?
Eu tenho avaliação que o governo Haddad é um bom governo e que vai buscar diálogo para se fortalecer. Temos que olhar para o longa-metragem que é o mandato, não para o retrato do momento.

A presidente está sitiada no Congresso, tem um processo no STF com políticos investigados. O clima é o pior possível. Como vocês saem disso com todos os astros conspirando contra?
Dialogando, dialogando, dialogando. Esta semana dialogamos e muitos vetos presidenciais que cairiam não caíram.

Quando vai encaminhar o projeto de regulação da mídia?
Abriremos debates públicos no fim do semestre. Vamos abrir diálogo muito amplo e sem prazo para encerrá-lo. Nesse tema, se não afastarmos os mitos e maniqueísmos não iremos a lugar nenhum especialmente numa conjuntura difícil como a que temos hoje. O governo não pode ficar nem surdo a quem diz que não tem que ter mudança nenhuma nem mundo com aqueles que dizem que tem que ter mudança profunda.

Qual a proposta do governo?
Não será o ministério que fará proposta isoladamente. Vamos buscar algum grau de entendimento. Eu diria que hoje ninguém tem hegemonia sobre esse assunto.

Dilma prometeu fazer regulação econômica da mídia.
A leitura que se faz é do monopólio e oligopólios. Vários países têm legislações sobre isso. Como não tenho uma proposta referencial, vou buscar que o debate comece com a cabeça aberta.

O PT é taxado de de querer controlar a mídia.
Injustamente. Não tem proposta de restrição de conteúdo.

Mas é contra a propriedade cruzada, por exemplo.
Não há razão para partirmos de uma opinião de um governo, que não é de um partido só.

Tem que entrar o papel do Google nesse debate?
Tem que discutir o papel da internet, de tudo, empresas de conteúdo. Aquelas que usam a rede e a que faz a infraestrutura da rede.