A lista dos nomes que podem ser indicados à liderança do Ministério da Fazenda no novo
mandato da presidente Dilma Rousseff já mudou algumas vezes, desde o
início da campanha eleitoral. A pouco tempo para o anúncio do próximo
ministro, alguns aparecem com indicativo de maior certeza, como tendo
sido indicados à mandatária pelo ex-presidente Lula - Henrique Meirelles
e Nelson Barbosa. Não deixaram de ser mencionados também, contudo,
figuras como Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, ou
ainda, Aloizio Mercadante, ministro chefe da Casa Civil. O nome com
maior força, porém, parece ser o do ex-presidente do Banco Central. >> Nome de Henrique Meirelles ganha mais força >> O social-desenvolvimentismo e o segundo turno Cada
um desses nomes dá pistas sobre como seria encaminhada a política
econômica nos próximos quatro anos. Economistas consultados pelo Jornal do Brasil
comentam o perfil e as direções que poderiam tomar, considerando o
quadro de baixo crescimento. O governo indica que quer aprofundar o
diálogo com diferentes setores, inclusive com o mercado
financeiro e com os empresários, e a lista oferece nomes que
representam essa possibilidade, cada um de seu modo. Após a reunião do
G20, que será realizada nos dias 15 e 16 deste mês, na Austrália, o novo
ministro será anunciado. Francisco Lopreato, professor
do Instituto de
Economia da Unicamp, alerta para uma tentativa do mercado de "pautar" a
presidente. "Aparentemente, não sei se o pessoal já percebeu que quem
foi eleita foi a
Dilma. Ela ganhou a eleição", diz, lembrando da possibilidade da
divulgação de tais nomes serem apenas uma tentativa de "pautar" e
"amarrar" a mandatária. Bruno Martarello De Conti, professor do Instituto de Economia da Unicamp, também aproveita para criticar que tem se imposto uma espécie de agenda única, do ponto de
vista da política econômica, que seria uma austeridade pesada, com política monetária contracionista para combater a inflação a
qualquer custo, e uma retração dos gastos públicos. "Isso me assusta um pouco. Quando a gente vê o exemplo da
austeridade lá na Europa, é catastrófico. Ele tem servido para acentuar o
quadro recessivo e para fazer com que as taxas de desemprego se elevem. Então, eu
não gostaria que isso fosse feito de uma forma cavalar porque, no fim
das contas, iria segurar ainda mais a economia brasileira, que já está muito
controlada, muito modesta, digamos." De qualquer
forma, continua Conti, qualquer um deles teria que mudar um pouco a
política econômica, mas não no sentido
de promover um ajuste profundo e rápido como o que era prometido pelo
que seria o ministro de Aécio Neves (PSDB), Armínio Fraga. Para Conti,
ajuste em tamanha proporção não será feito e nem deveria. "Acho que o
governo está num
momento que tem que reagir a essa pressão que vem sendo feita, de que a
despeito da história da Dilma, ela deve se seguir a política econômica
que havia
sido proposta pelo Aécio. Não é por aí." >> Economistas lançam manifesto pelo desenvolvimento e inclusão social Nesta
sexta-feira (7), economistas lançaram manifesto pelo desenvolvimento e
pela inclusão social, alertando para o pensamento único que estaria
sendo veiculado pela imprensa tradicional, de que a austeridade fiscal e
monetária seria a única solução para o país, e os perigos dessa
perspectiva. Nomes como Maria da Conceição Tavares, Luiz Gonzaga
Belluzzo, João Sicsú e Marcio Pochmann lançaram o documento. Silvio
Campos
Neto, economista-sênior da Tendências Consultoria, porém, destaca que o
mais importante, de início, seria uma sinalização do governo sobre o
grau de autonomia que determinado nome
teria para "tomar decisões importantes de mudanças que são necessárias". Henrique MeirellesO
nome de Henrique Meirelles, presidente do Banco Central no governo Lula
(2003-2010), hoje ligado ao PSD, costumava sofrer certa resistência da
presidente, por sua maior ligação com o setor financeiro e também pela
corrente econômica que poderia seguir. Parece, todavia, que a situação
estaria mudando. Supostamente indicado por Lula como principal
alternativa, se anunciado, colocaria Nelson Barbosa no Ministério do
Planejamento. Em entrevista coletiva, nesta quinta-feira, no
Palácio do Planalto, a presidente afirmou que vai fazer o "dever de
casa" e apertar o controle da inflação e que também fará um reajuste em
todas as contas do governo. Sinalizou ainda que não pretende mexer na
meta de inflação ou no intervalo de tolerância. O atual ministro, Guido
Mantega, alertou que, para garantir um cenário mais positivo,
será necessário fazer corte nas despesas públicas, que poderia ocorrer
em relação ao seguro desemprego, auxílio doença e pensão por morte. O
ministro também declarou que seu sucessor terá o desafio de fazer a
economia crescer em um momento de transição na economia mundial. Meirelles
hoje é presidente do Conselho da J&F (holding brasileira que
controla empresas como JBS, Flora e Eldorado), e é chairman do Lazard
Americas. Antes de exercer a presidência do Banco Central, foi
presidente de Global Banking do FleetBoston Financial e presidente
mundial do BankBoston. Foi também membro do conselho da Harvard Kennedy
School of Government, da Sloan School of Management do MIT
(Massachusetts Institute of Technology), da Carroll School of Management
do Boston College, bem como membro do conselho do Conservatório
de Música da Nova Inglaterra e do Instituto de Arte Contemporânea de
Boston. Em sua coluna publicada na Folha de S. Paulo no dia 2 deste mês, intitulada Crescimento e Inclusão Social, diz que é preciso fazer os investimentos necessários em produtividade e consolidar a estabilidade. Para
o economista-sênior da Tendências, Silvio Campos Neto, Meirelles seria
um nome mais bem recebido pelo
mercado, já que seu viés um pouco mais ortodoxo é conhecido por todos.
Com ele no comando da pasta, pode-se imaginar uma política econômica um
pouco mais "equilibrada", que promovesse medidas importantes em relação
ao ajuste de
preços relativos, com uma política fiscal mais transparente e com o
ajuste fiscal necessário. "Talvez ele encamparia algum sentimento
de que algumas reformas, algumas mudanças, seriam necessárias, tudo isso
criando, então, um sentimento um pouco mais favorável, eu diria bem mais favorável,
em relação às perspectivas para os próximos quatro anos", acredita Campos Neto. O
economista também destaca que Meirelles na Fazenda poderia propor e
lutar por algumas reformas importantes, "até pelo viés do mandato
anterior, um viés um pouco mais
ortodoxo". Ele poderia ainda, de certa forma, ser um polo de força para
tentar colocar ajustes difíceis e algumas discussões mais importantes em
relação a reformas. "Mas isso é muito difícil, porque envolve,
logicamente, a negociação
política. Mas, no caso dele, é claro que a possibilidade nesse
aspecto é um pouco maior em relação a outros nomes." Bruno
Martarello De Conti, professor do Instituto de Economia da Unicamp,
aponta que Meirelles pode ser encarado como um nome mais
técnico, como alguém que já foi do Banco Central e
que vem também do mercado financeiro, originalmente, que sabe como
funciona a
máquina pública. "Eu acho que, no fundo, por trás dos critérios
técnicos, sempre existe as questões políticas. Enfim, é difícil dizer se
uma coisa é certa ou errada tecnicamente do ponto de vista da teoria
econômica, sem saber que por trás também tem objetivos mais profundos de
longo prazo, mas eu acho que numa leitura que os mercados fariam seria
isso (de ser um nome mais técnico", reforça Conti. Antonio Carlos
Macedo, professor do Instituto de Economia da Unicamp, por sua vez,
agrega que o ex-presidente do BC seria o candidato de quem
acredita que a confiança é o maior problema, e que ela poderia ser
restaurada por
políticas e propostas para o mercado financeiro. Nesse sentido, "é mais
ou menos evidente que
o Meirelles seria o nome mais indicado". "O
Meirelles fará uma política mais austera. Uma ideia de colocar a
economia nos
trilhos e, uma vez colocada a economia nos trilhos, por uma política de
austeridade, você, em algum momento, retoma o crescimento." Francisco
Lopreato,
professor do Instituto de Economia da Unicamp, analisa que, como é uma
pessoa que vem do mercado financeiro, seus interesses poderiam ser
"ligados umbilicalmente" com o mercado financeiro. "Se nós tomarmos como
base a política que ele seguiu
durante o período que ele foi presidente do Banco Central, é uma
política
bastante conservadora." Lopreato também destaca que, durante o
período em que esteve no BC, Meirelles implantou uma alta taxa de juros e
que, inclusive na crise de 2009, subiu a taxa. "Quer dizer,
subiu não, continuou subindo, porque ele já vinha subindo antes. (...)
Eu acho uma visão bastante conservadora. Então acredito que ele, no
Ministério
da Fazenda, não mudaria o perfil conservador forte que ele mostrou no
Banco
Central." De acordo com Lopreato, o cuidado com a política fiscal
deveria ser tomado com ações paulatinas, sem um corte fiscal mais forte
no começo do segundo governo
Dilma, por exemplo. "Ele não vai mandar no Banco Central, mas, do ponto
de vista da
política fiscal, pode ter um controle bem maior da política fiscal com
aumento do
superávit. Por isso, faria tudo que estivesse ao alcance dele para ter
uma
articulação com o Banco Central de modo a fazer uma política mais
conservadora." Nelson BarbosaNelson
Barbosa é apontado como o ministro que estaria mais alinhado com a
presidente. Ph.D em Economia pela New School for Social Research (Nova
Iorque, EUA), ele foi secretário executivo do Ministério da Fazenda, de
2011 a 2013, e exerceu diversos cargos na administração Federal, como de
secretário de Acompanhamento Econômico (2007-08) e secretário de
Política Econômica (2008-10), no Ministério da Fazenda. Foi também
presidente do Conselho do Banco do Brasil (2009-13) e membro do Conselho
de Administração da Vale (2011-13). As experiências de Barbosa
no governo incluem passagens pelo Banco Central do Brasil (1994-97),
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2005-06) e
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (2003). Atualmente, é
professor Titular da Escola de Economia de São Paulo (FGV-EESP),
professor adjunto do Instituto de Economia (IE/UFRJ), pesquisador do
Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV) e membro dos conselhos de
administração da Cetip e do Banco Regional de Brasília (BRB). Seu
nome foi dado em alguns momentos como o favorito,
principalmente levando em conta uma suposta resistência de Dilma ao nome
de
Meirelles, mas agora cogita-se também que, caso não seja indicado à
presidência da Fazenda, pode assumir o Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão, no lugar de Miriam Belchior. Na avaliação do
economista Silvio Campos Neto, Barbosa não traria uma percepção ruim
para os
mercados e seria um nome recebido de uma forma um pouco mais neutra em
relação a Meirelles. Não seria visto de forma negativa, principalmente
levando em conta que em entrevistas recentes evidenciou que não concorda
com uma série de caminhos que foram seguidos nos últimos anos,
principalmente sobre uma "maquiagem de contas públicas" e em relação ao
controle de
preços administrados. "No caso dele, alguns ajustes importantes seriam
esperados." Antonio Carlos Macedo, professor da Unicamp, enxerga
Barbosa como um excelente economista, com uma formação
acadêmica impecável, mas que não é um "economista da torre de marfim",
mas sim um economista que mostrou saber dialogar tanto com o Congresso
quanto com os
mercados. Seria um nome com capacidade, mesmo não sendo o nome
preferido de todos, de gerar alguma simpatia,
um nome capaz de ser aceito por fatias consideráveis da classe política,
do
mercado, dos economistas, de maneira geral. "Todo mundo acha que o ano que vem vai
ser um ano difícil, e possivelmente será realmente um ano difícil. O Nelson
tem a seu favor a capacidade de operar num ano difícil, inclusive a
capacidade de, se necessário, tomar decisões politicamente complicadas, mas sem
perder de vista, eu acho que é isto que o caracteriza, uma preocupação de longo
prazo com o crescimento e com a transformação estrutural da economia brasileira.
Ou seja, eu tenho em relação ao Nelson uma certeza que eu não tenho em relação aos
outros dois nomes, que é a certeza de que ele sabe o que quer o desenvolvimento
de uma economia ainda periférica, uma economia de renda média, não paupérrima,
mas de renda média, como a economia brasileira", explica Macedo. Se
necessário for, acredita Macedo, Barbosa teria todas as condições
técnicas de implementar uma política com alguns tons de austeridade, mas
sem perder de vista a preocupação com as reformas de longo prazo para o
desenvolvimento
da política brasileira. "Se o Nelson tiver de ministrar pílulas
amargas, eu sei que elas serão
temporárias, serão pensadas como parte de um processo no qual não vai
demorar
muito para que sejam revertidas, ao mesmo tempo outras políticas de
mudança estrutural vão estar sendo pensadas, gestadas e implementadas." Bruno De Conti também lembra que Nelson manteve diálogo com os mercados,
principalmente no período mais recente, desde que deixou a Secretaria do
Ministério, e que ainda tem objetivos de longo prazo mais alinhados com o projeto
desenvolvimentista, que, bem ou mal, ainda caracteriza o governo Dilma. "Se a Dilma foi
reeleita é porque, de alguma forma, a população brasileira legitimou esse
projeto desenvolvimentista de continuidade de distribuição de renda, de inclusão
social. Então, nesse sentido, eu acho que o Nelson incorpora um pouco mais
essa marca dos governos Lula e Dilma, de prosseguir nesse esforço pelo
desenvolvimento, a respeito de estar tendo esse diálogo com os mercados." Para
Lopreato, a política econômica executada por Barbosa não seria igual a
do Mantega, mas seria mais compatível com uma visão social
desenvolvimentista, que seria a linha que o governo pretende seguir.
Nelson teria uma
preocupação com a política fiscal, mas não faria um corte fiscal
draconiano para aumentar o superávit primário. Sua preocupação maior
seria criar condições para que crescesse o investimento público e
privado para retomar o avanço do PIB, negociando
com o setor privado, e a retomada dos investimentos não só em
infraestrutura como
em outros setores, além da melhor definição de um projeto de
investimentos em outras áreas,
como em serviços públicos. "Com isso melhoraria as condições fiscais,
sem abalar a
questão da inflação", aponta Lopreato.
Tags: Dilma Rousseff, economia, ministro da fazenda, opções, política
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